GRAVURA

Não se engane, "gravura" não se trata daquela fotografia na revista ou no jornal que costumamos recortar. Gravar é uma linguagem artística, assim como pintar, esculpir, modelar ou desenhar. Saiba mais:



             "As gravuras são resultantes de processos em que uma superfície é trabalhada com instrumentos especiais e que nela produzem traços, ranhuras, sulcos, fundos matizados e uma infinidade de outros recursos artísticos. Segundo o Dicionário Oxford de Arte (2001, p.234) gravura é o “termo aplicado a vários processos de formar imagens por meio de incisões e talhos em placas ou blocos de metal, madeiras, pedra etc., e às estampas resultantes de qualquer destes processos”.

               Segundo Farjado; Sessekind e do Vale (1999) a gravura tem a possibilidade de refletir e registrar, como uma memória viva, o ambiente cultural da arte e os momentos mais significativos da história humana. Certamente a essência de uma gravura está relacionada com a transferência da imagem gravada para outra superfície, seja por meios manuais, seja por meios mecânicos ou tecnológicos, envolvendo a sua duplicação, mais nem sempre a sua multiplicação. Ela é um processo de transformação que inicia com o interesse de criar uma imagem numa determinada matriz com a intenção de se obter uma outra imagem, fiel espelho da primeira, impressa em um tipo de suporte com características diferentes do material da matriz.
               A gravura foi utilizada desde o seu surgimento, como veículo de multiplicação e reprodução de imagens, de idéias e de conhecimento. Arte coletiva, feita para satisfazer e informar as camadas baixas da população era produzida por uma equipe: o artista criava a imagem enquanto um artífice a gravava e um impressor se encarregava da impressão. 

               A gravura, como as pessoas, possui um ritmo vital que deve ser respeitado. As etapas de sua execução, mais rápidas ou mais lentas conforme cada gravador deverão ser seguidas como num ritual. Não é possível saltar qualquer uma das fases, sem prejuízo do resultado final. “A gravura possui uma linguagem própria e a compreensão dessa linguagem é o que o artista deve buscar”. (Hersckovits, 1986 p.37. A gravura pode ser considerada interdisciplinar, pois envolve os conteúdos de diferentes disciplinas como: física, matemática, química. É uma expressão de cultura, auxilia na reconstituição histórica e dos costumes de um povo."


              "Desde que o homem primitivo colocou a mão sobre a rocha das paredes das cavernas, além de ter a sensação tátil, experimentou a possibilidade do desdobramento. Estas marcas criadas na pedra geraram o duplo, um dos fundamentos da invenção humana. No impulso de colocar a mão suja de fuligem, o homem criou a primeira matriz impressa sobre uma superfície. A partir daí, na sua interposição com o exterior, projetou algo fora de si, que se repete e se transforma permanentemente. “Ao deixar os vestígios por onde passa, o homem se reproduz, se perpetua e este sentido a gravura o guarda ainda hoje” (Blauth, 1996, p.32)."


Na pintura, você pode utilizar diferentes suportes (papéis, tecidos, etc) e, ainda, diferentes tintas (acrílica, aquarela, à óleo, entre outras). Na gravura existe a mesma variedade de possibilidades. Fique por dentro:



CALCOGRAVURA (ou Gravura em Metal):




             "A gravura em Metal é uma das mais antigas, temos obras nesta técnica produzidas por vários gênios da Renascença, como Albert Dürer, por exemplo, datando de 1500 d.C.
              A técnica do Metal consiste na "gravação" de uma imagem sobre uma chapa de cobre. Os meios de obter a imagem sobre a chapa são muitos, e não seria exagero dizer que são quase "infinitos", pois cada artista desenvolve seu procedimento pessoal no trato com o cobre. De um modo geral, o artista faz o desenho por meio de uma ponta seca - um instrumento de metal semelhante a uma grande agulha que serve de "caneta ou lápis". A ponta seca risca a chapa, que tem a superfície polida, e esses traços formam sulcos, micro concavidades, de modo a reterem a tinta, que será transferida através de uma grande pressão, imprimindo assim, a imagem no papel.
              Esta não é a única forma de trabalhar com o Metal, como dissemos antes, mas é um procedimento muito usual para os gravadores. Além de ferir a chapa de cobre com a ponta seca, obtendo o desenho, a chapa também pode receber banhos de ácido, que provocam corrosão em sua superfície, criando assim outro tipo de concavidades, e consequentemente, efeitos visuais. Desta forma o artista obtém gradações de tom e uma infinidade de texturas visuais. Consegue-se assim uma gama de tons que vai do mais claro, até o mais profundo escuro.
             Os dois procedimentos, a ponta seca e os banhos de ácido, são usados em conjunto, e além destes, ainda há outros mais sofisticados, mas que exigem longas explicações, pois envolvem a descrição de operações muito complexas. A ponta seca é o instrumento mais comum, mas existem vários outros para gravar o cobre, cada qual conferindo um possibilidade diferente ao artista."


LITOGRAVURA (ou Gravura em Pedra):



            
         "A Litografia surge por volta de 1797, inventada por Alois Senefelder. O processo de gravação na pedra litográfica se dá primeiramente através da utilização de material oleoso (a pedra, rara, repele água e absorve gordura), com o qual se elabora a imagem. Este material pode ter várias formas diferentes. Existem "lápis litográficos" (possuindo gradações distintas quanto ao seu grau de dureza, assim como os lápis de grafite de desenho - série H, os mais duros, e série B, os macios.). Também podem ser em formato de "barrinhas", como o giz de cera comum, com os quais se desenha na pedra. E existem tintas à base de óleo que também gravam a pedra, usando-se o pincel, como uma espécie de nanquim. E até o contato da mão do artista pode "marcar" a imagem, fato que exige perícia na hora de desenhar, evitando manchas acidentais. O desenho feito na pedra é sempre em preto, as cores só vão surgir na hora de imprimir a imagem no papel. 

         Além de "gravar" a pedra com "gordura", é preciso que o artista isole as áreas que ficaram "em branco", ou seja, que continuam sem desenho. Isto se faz com uma goma, "lacrando" a pedra. Somente as áreas desenhadas sofrerão o ataque corrosivo, de modo a criar micro concavidades para receber a tinta, as demais continuarão "em branco" e estarão sempre molhadas durante a impressão. A tinta também é oleosa, por isso só adere onde está o desenho, as áreas "em branco" sofrem a ação repelente da água. 

         A tinta é transferida para a pedra já "processada" usando-se um rolo de borracha, semelhante ao rolo de esticar massas. Apenas uma fina camada de tinta é suficiente para imprimir a imagem no papel. A operação final é a "passagem" da imagem para o papel usando-se uma grande prensa que “esmaga” o papel sobre a pedra."



XILOGRAVURA (ou Gravura em Madeira):





     "A forma mais antiga de impressão é a utilização de um relevo que recebe a tinta, a partir do qual se transfere a imagem para outra superfície. Dentre estes processos está a Xilogravura.


     A Xilogravura consiste numa matriz em alto relevo produzida em madeira. Esta forma de gravação foi amplamente utilizada ao longo de toda história. Tanto na arte quanto na literatura.

     A imagem é gravada através de goivas, formões e pontas cortantes. O artista "entalha" seu desenho na madeira, ao modo de um escultor, mas tem em mente que essa matriz não é o trabalho, e sim o meio para alcançá-la. Depois disso, a matriz recebe a tinta e vai para a prensa com o papel. Há também a impressão com as costas de uma colher. Esta técnica exige grande habilidade do artista e permite a obtenção de detalhes que a prensa não consegue alcançar.

LINÓLEOGRAVURA (ou Gravura em Linóleo): 


      "Esta técnica assemelha-se ao entalhe da Xilogravura, no entanto, ao invés de madeira, a matriz é de material sintético - placas de borracha, chamadas "linóleo". Esta técnica é mais recente do que a Xilogravura devido ao material de sua matriz, e foi muito utilizada pelos artistas modernos, como Picasso, por exemplo."





Além da Linóleogravura, através do processo de impressão e entalhe da Xilogravura, pode-se trabalhar técnicas como a Isoporgravura, que permite um interessante trabalho com crianças, utilizando como matriz uma placa de isopor e como ferramenta o simples lápis. É neste momento que a criação entra em jogo e podemos pensar em inúmeras outras possibilidades de matrizes e formas de impressão.


SERIGRAFIA (ou Silk-Screen):




      "A Serigrafia é a modalidade mais recente das técnicas apresentadas até então. Convivemos diariamente com Serigrafias sem desconfiarmos que também são usadas por artistas. Geralmente conhecemos pelo nome Silk-Screen, isto é, Estamparia.
     Este meio de impressão é muito comum na utilização comercial, servindo para uma larga aplicação, seja em tecidos, plásticos, vidro, cerâmica, madeira ou metal.
        O processo de gravação consiste em transferir a imagem desenhada para uma "tela de nylon". O desenho pode ser feito com tinta opaca (nanquim) em material transparente (acetato ou papel vegetal), obtendo-se o "filme" que servirá para gravar a tela (matriz).
       Este processo assemelha-se ao da fotografia. Em resumo, o filme desenhado é posto sobre a tela de nylon, que recebeu uma fina camada de líquido (emulsão) sensível à luz. Dentro de uma caixa escura, a tela de nylon com o desenho são expostos a luz muito forte. Passado alguns minutos a emulsão que recebeu a luz seca e adere ao nylon, e a que ficou protegida pelo desenho é retirada com água.
          O resultado é uma espécie de "peneira", digamos assim, sendo que a parte desenhada está livre para a passagem da tinta e o restante está vedado pela emulsão.
          A impressão se faz através de rodos que "empurram" a tinta que é posta dentro da tela de nylon, pelos orifícios deixados em aberto que formam o desenho. O número de impressões é que permite a composição total do desenho, somando as cores e formas a cada nova impressão -assim como quem pinta uma paisagem, e primeiro pinta o tudo o que é azul, depois o que é amarelo, e assim por diante, e dessa forma chega ao resultado final.

Este é o método "original", no entanto, é possível elaborar a mesma matriz de forma mais artesanal. Você precisará de um quadro de madeira (como o da imagem), tecido "voál" e "tachinhas" ou grampeador de madeira. Estique  o tecido sobre o quadro e o prenda firmemente - com os grampos ou o material escolhido - às laterais dos chassis. Bloqueie os quatro lados  (lembre-se, ainda: interior e exterior) com fita e tinta PVA para que a água ou a tinta utilizada na impressão não penetre na madeira. O bloqueio permanente deverá ser feito com goma laca (a transparente), porém, se quiser utilizar a mesma tela para imprimir várias imagens diferentes, o bloqueio de cada uma poderá ser feito através de papel vegetal, com o processo semelhante ao do stencil. 




MONOGRAVURA:



        "A monogravura é uma monotipia, ou seja, uma técnica de impressão única de uma pintura feita sobre uma superficie lisa de vidro, fórmica ou placa de metal. Esse processo, que permite uma transferência de imagens para o papel, nem sempre resulta em uma gravura, mas possui uma linguagem semelhante aos processos de incisão e impressão."


INFOGRAVURA:



Infogravura de Guy Joseph - 45X60cm - Plotter com laminação fosca. Assinada e numerada 

        "A infogravura, surge com a informática e são imagens criadas através da computação gráfica. Essa nova linguagem utiliza imagens fotográficas digitalizadas ou desenhos vetoriais, podendo misturar os dois, que depois são impressas utilizando impressoras laser ou plotter de impressão. Dependendo do artista, a infogravura também pode ser impressa em silk-screem ou qualquer outra forma de reprodução em série."


FOTOGRAFIA (e por que não?):






      "A fotografia também é considerada uma forma de gravura, pois permite a sua reprodução de suas imagens em série, utilizando suporte de papel, ou qualquer outra superfície que possa ser impressa."


ESTÊNCIL (Stencil ou molde vasado):






           O stencil assemelha-se à serigrafia, no entanto, a matriz, neste caso, é uma placa de raio x ou uma folha plástica de transparência. 
      Sua impressão norteia-se basicamente em passar para a superfície (tecido, concreto, etc) a tinta através dos espaços vazios em sua matriz. O processo não é tão simples assim, exige certos cuidados e atenções, começando pela confecção da matriz, que é um material rígido e deve ser cortado com ferramentas afiadas (estilete). 





MATRIZES

“Cada modalidade de gravura terá seu "idioma" peculiar, ainda que cada artista pronuncie seus próprios "poemas" com ele. Isto significa que as comparações não são cabíveis, pois não se trata de avaliar perícia e virtuosismo de um em detrimento de outro.
De um modo geral, chama-se "gravura" o múltiplo de uma Obra de Arte, reproduzida a partir de uma matriz. Mas trata-se aqui de uma reprodução "numerada e assinada uma a uma", compondo desta forma uma edição restrita, diferente do "pôster", que é um produto de processos gráficos automáticos e reproduzido em larga escala sem a intervenção do artista.
Um carimbo pode ser a matriz de uma gravura. Mas quando esse "carimbo" é fruto da elaboração e manipulação minuciosa de um artista, temos um "original" - uma matriz - de onde surgirão as imagens que levarão um título, uma assinatura, a data e a numeração que a identificam dentro da produção desse artista.
Depois de impressa, cada gravura recebe a avaliação particular do artista, que corrige os efeitos visuais ou os tons e cores, ou ainda, acrescenta ou elimina elementos que reforcem o caráter que quer dar à imagem.
Quando a imagem chega ao "ponto", define-se a quantidade de cópias para a edição. As gravuras editadas são assinadas, numeradas e datadas pelo próprio artista. Em geral a numeração aparece no canto inferior esquerdo da gravura - 1/ 100, ou 32/ 50, por exemplo - isto indica o número do exemplar (1 ou 32), e quantas cópias foram produzidas daquela imagem (100 ou 50). O número de cópias varia muito, e depende de fatores imprevisíveis, que vão desde a possibilidade técnica que cada modalidade permite, ou também da demanda "comercial", ou do desejo do artista apenas. Grandes edições não chegam a 300 cópias, mas em geral o número é muito menor, ficando por volta de 100. Gravuras em Metal costumam ser as de menor tiragem, devido ao desgaste da matriz, que não costuma aguentar muito mais de 50 cópias.
Outras indicações também são usadas em gravuras: PI (prova do impressor), BPI (boa para impressão, quando se chega ao resultado desejado para todas as cópias), PE (prova de estado, que indica uma etapa da imagem antes de sua configuração final), PCOR (prova de cor, correspondendo à investigação de combinações de cores e tons), e também PA (prova do artista, que representa um percentual que o artista separa para seu acervo, em geral 10% da edição).
Além do trabalho do artista, há também a preciosa atuação do "impressor", uma figura que está atrás do pano, por assim dizer, alguém que não cria a imagem, mas faz com que ela "apareça" aos olhos do artista, literalmente.
O impressor é quem domina os segredos do "processamento da matriz e da reprodução fiel das cópias". Há artistas impressores também, mas no geral, a gravura é fruto de um trabalho coletivo.
A gravura serviu de laboratório para grandes idéias e para veicular ideais com maior facilidade, criando interação entre camadas distintas da sociedade.”

Não esqueça que para as gravuras coloridas é preciso uma matriz para cada cor, bem como a impressão separada de cada uma delas.




REFERÊNCIAS:



ANDRIOLE, Mauro.  Gravura: conceito, história e técnicas. http://www.casadacultura.org/arte/Artigos_o_que_e_arte_definicoes/gr01/gravura_conceito_hist.html


CESCHIN, Célia. A Gravura como Linguagem e suas Possibilidades no Contexto Pedagógico Didático no Ensino Fundamental. Dissertação de Mestrado, 2002.


CLUBE DA GRAVURA DA PARAÍBA. http://clubedagravura.blig.ig.com.br/




AVISOS IMPORTANTES:



O universo da Gravura é complexo e rico, sendo impossível passar sua totalidade em uma simples página na internet. A partir destas informações elabore sua própria pesquisa e criação. 
          Acompanhe nos postes individuais um pouco mais sobre cada técnica.
        As imagens utilizadas neste post são retiradas da internet, nenhuma imagem postada nesta página (Gravura) é produção do blog.
          Os grifos do texto são por conta do responsável pelo blog.